Medo do lobo quantas
jovens meninas não já sentiram?
Chapeuzinho Vermelho,
Chapeuzinho Amarelo, Fita Verde... e tantas outras. A menina da vez chama-se
Violeta. Violeta é uma pequena, brejeira que só! Pele misturada e brasileira.
Marrom, marrom... com um dedinho de caramelo. Anda, sempre, com uma violetinha
presa aos cabelos sarará que, por puro charme, faz descer-lhe um cachinho pela
face. Há marcas em seu corpo. Marcas de vacina, quedas e castigos. A menina,
nascida perto do céu, sabe soltar pipa como um menino, mas também aprendeu a
lavar e a passar muito bem.
Sua mãe, um dia – assim
como as mães das outras histórias – a chamou para um visita. A encomenda a ser
entregue não traduzia qualquer tipo de beleza ou cortesia. Apenas documentava o
contexto social de sua existência. A casa dos “tios” ficava ali mesmo, algumas
vielas adiante. Era preciso destreza e coragem para ultrapassá-las. Sua mãe –
no conto de Violeta – é mulher jurada... se a encomenda não chegar a tempo e a
hora.
A menina desce e sobe as
escadarias daquela vasta cidade. Sua
casa e seu território são prisões! “Gostaria que este tempo fosse outro
tempo”, sonha. No caminho, encontra com os colegas pipeiros e joga conversa
fora. A lanhouse fica ali pertinho e não custa nada dar uma passadinha para
atualizar o MSN e o Orkut. Em seguida, avista o bar-quitanda do Seu José; uma
portinha com tudo dentro. Aumenta a conta comprando uns “lances da hora” e um
creme hidratante super cheiroso para peles escuras. Um funk proibidão, vindo da
casa vizinha, marca seus passos de “moleque doido”.
A porta da noite se fecha
e abraça os olhos de Violeta. A menina fuma dois cigarros olhando, da laje, as
estrelas. Chupa uma bala de hortelã para disfarçar o hálito. A encomenda fica
para o dia seguinte.
Ao chegar em casa, confere
as violetas expostas na janelinha dos fundos. Estão murchas.
Os lobos haviam devorado
sua mãe. Agora... aguardam a sobremesa.