quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Violeta


Medo do lobo quantas jovens meninas não já sentiram?

Chapeuzinho Vermelho, Chapeuzinho Amarelo, Fita Verde... e tantas outras. A menina da vez chama-se Violeta. Violeta é uma pequena, brejeira que só! Pele misturada e brasileira. Marrom, marrom... com um dedinho de caramelo. Anda, sempre, com uma violetinha presa aos cabelos sarará que, por puro charme, faz descer-lhe um cachinho pela face. Há marcas em seu corpo. Marcas de vacina, quedas e castigos. A menina, nascida perto do céu, sabe soltar pipa como um menino, mas também aprendeu a lavar e a passar muito bem.

Sua mãe, um dia – assim como as mães das outras histórias – a chamou para um visita. A encomenda a ser entregue não traduzia qualquer tipo de beleza ou cortesia. Apenas documentava o contexto social de sua existência. A casa dos “tios” ficava ali mesmo, algumas vielas adiante. Era preciso destreza e coragem para ultrapassá-las. Sua mãe – no conto de Violeta – é mulher jurada... se a encomenda não chegar a tempo e a hora.

A menina desce e sobe as escadarias daquela vasta cidade. Sua  casa e seu território são prisões! “Gostaria que este tempo fosse outro tempo”, sonha. No caminho, encontra com os colegas pipeiros e joga conversa fora. A lanhouse fica ali pertinho e não custa nada dar uma passadinha para atualizar o MSN e o Orkut. Em seguida, avista o bar-quitanda do Seu José; uma portinha com tudo dentro. Aumenta a conta comprando uns “lances da hora” e um creme hidratante super cheiroso para peles escuras. Um funk proibidão, vindo da casa vizinha, marca seus passos de “moleque doido”.

A porta da noite se fecha e abraça os olhos de Violeta. A menina fuma dois cigarros olhando, da laje, as estrelas. Chupa uma bala de hortelã para disfarçar o hálito. A encomenda fica para o dia seguinte.

Ao chegar em casa, confere as violetas expostas na janelinha dos fundos. Estão murchas.

Os lobos haviam devorado sua mãe. Agora... aguardam a sobremesa.