sexta-feira, 5 de março de 2010

O cortejo



Quero escrever, mas a inquietude subverte a razão.
Ontem, passei o dia na cozinha.
Gosto de sentir cheiros, gostos, texturas...
Minha avó dizia sempre que em meu balaio cabia era vida!!
Vida, sim. Contínua vida em passos de hortelã e cominho...
Sementes desencontradas formando sonoridades caóticas...
Sinfonias estaladas de panelas.

O cortejo segue longe, mas ouço a música e a morte é triste, triste como a vida:
é difícil ser gente.
Quando menina sonhava com marido.
Hoje, sonho com instantes de alegria.
Acostumei-me com sobressaltos.
Papai, diariamente, a gritar:
_Apaguem a luz! Não sou sócio da light!
E a luz se foi quando ele parou de gritar.
Em intervalos de vida ainda ouço um interlúdio.

É ordinária a forma como lidamos com a existência!
O cortejo,
Sons e sons,
Peixe ainda no fogo,
Quintal sem cachorros,
Criança e soluços...
Mistérios de Deus,
do Deus de Amor que um dia conheci.